sábado, 6 de dezembro de 2025

Aconteceu na Bahia - Romance não revisado.


 

Orlando saiu de seu apartamento ansioso para chegar ao trabalho, resolver as últimas pendências e finalmente poder gozar suas férias. O trajeto era curto e em poucos minutos ele chegou ao escritório.  

         — Bom dia, Malaquias.

         — Bom dia, Orlando. O Dr. Antônio Guilherme ligou de São Paulo, parecia ter urgência.

         — Algum problema? 

         — Ele não adiantou o assunto. Quer que eu ligue para ele?

         — Ligue... Mais alguma coisa?

         — Só o caixa. Estou acabando de digitá-lo, depois eu imprimo e levo para o senhor assinar.

         — Ok — Bom dia, dona Graça, dormiu comigo?

         — Bom dia, Dr. Orlando. — Ela deu um sorriso sem graça e perguntou — Quer café?

         — Não, obrigado. Bebi um há pouco...

         Orlando adentrou a sala da diretoria regional, sentou-se e começava a folhear os jornais do dia quando foi interrompido pelo interfone.

— Orlando. Dr. Guilherme na linha dois.

— Obrigado, Malaquias – Orlando agradeceu ao secretário e ao apertar um dos botões do aparelho iniciou conversa com Dr. Antônio Guilherme:

 — Diga, meu chefe. O que ordena?

— Não ordeno, peço...  — respondeu Guilherme amigavelmente — Meu querido; estou tendo dificuldade em conseguir vaga em hotel daí. Você tem como me resolver esse problema?

— Nesta época é difícil, mas darei um jeito. Para que dia a reserva?

— Para amanhã. Eu estou pretendendo passar o réveillon, com Marta, aí em Salvador. Já tentei conseguir suíte em diversos hotéis, mas não estou encontrando vaga. Foi uma decisão de última hora, sei que é difícil, mas faça uma forcinha... é importante para mim.

— Sempre se dar um jeito, chefe... Você já comprou as passagens?

— Já. O problema é com hospedagem.

— Quanto a isso está resolvido. Vocês ficam em meu apartamento. Não é nenhum apartamento de alto luxo, mas tenho uma suíte vaga que dá para o gasto.

— Não queremos incomodar... 

— Não é incomodo algum. Eu estou entrando de férias hoje e pretendo passar o réveillon na ilha com a namorada. Assim que terminar o expediente, é só fechar o caixa e vou para farra, mas antes arrumo a suíte para vocês.

— Não tem cabimento, Orlando. Tente o Hotel.

— Se você prefere, chefe. Vou fazer o possível. No final da tarde lhe dou retorno. Em que vôo vocês vem?

— Sairemos daqui às dez, devo chegar a Salvador em torno das treze horas. . Aproveitaremos para almoçarmos juntos.  

— Ok. Mesmo que não consiga o hotel, lhe pego no Aeroporto. Daqui fica mais fácil se conseguir uma vaga. Se não encontrar vocês ficam em meu apartamento.

 Certo, Orlando. Então iremos. Ai eu tentarei um quarto no hotel.

— Então está resolvido, patrão. Boa viagem — Orlando chama Malaquias pelo interfone e pede:

 — Malaquias, peça a dona Graça para dar um pulo aqui, agora. Aproveita e faz um cheque. Mande o Lampião ao banco sacar mil reais em minha conta.

— Só isso?

— Não. Quero que descubra um Hotel de luxo para hospedar o Dr. Guilherme. Quarto de casal, com vista para o mar. Quero coisa de primeiríssima classe. Se for necessário ligue para  Bahiatursa e diga que é um favor muito especial para mim. É só.

Dona Graça entrou na sala com uma bandeja, nela xícara com café e um copo com água, colocou-os sobre a mesa e esperou que Orlando se pronunciasse.

       — Obrigado, dona Graça. Sente-se, por favor.

       — Alguma coisa errada, seu Orlando?

       — Não. Sente-se, dona Graça.

       — Diga, Dr. Orlando, eu fico em pé mesmo.

       — A senhora gostaria de ganhar cem reais pra me quebrar um galho?

       — Dinheiro é sempre bom, né? Dr. Orlando.

       Retirando a carteira do bolso, Orlando entrega duas notas de cem reais, retira uma chave do molho e a entrega dona Graça  — A senhora pega está chave, vai a meu apartamento. Pode ir de táxi, lá faz uma faxina geral. Limpa bem a suíte maior e troca as roupas de cama. Estão no armário do lado direito. Tira tudo que for meu, coloca no quarto de hóspedes e arruma. Deixe o meu quarto limpo e muito bem arrumado. É para umas visitas que vou receber. Depois a senhora vai a delicatesse e compra queijo, presunto, pão, biscoitos, azeitonas e uns petiscos. Tem uma garrafa térmica no armário da cozinha, a senhora faz um café bem forte e deixa sobre a pia. A senhora entendeu, dona Graça?

      — Mudar as coisas do senhor para o quarto de hóspede, trocar as roupas de cama, e fazer a faxina. Só isso?

     — Comprar o queijo...

     — Eu sei, Dr. Orlando, fique tranqüilo... E o troco?

     — Pode ficar para senhora. Se sobrar menos de cinquenta, a senhora pega a diferença amanhã na mão de Malaquias, pode ir dona Graça.

     — E o almoço? Faxina demora...

     — Tem almoço pronto no freezer, é só descongelar e esquentá-lo no microondas.

     — Eu não sei mexer naquele troço não, Dr. Orlando.

     — Esquenta no forno do fogão, dona Graça. Não me inventa problemas...

            — Tá certo, Dr. Orlando, já estou indo.

O dia transcorreu dentro da rotina da filial. Encerrado o expediente, Orlando, como faz toda semana, saiu com Tiane, sua namorada, para jantar.

Após buscar a namora, com o cuidado de reparar se ela não havia mudado o corte de cabelo, a cor das unhas, o odor do perfume ou mesmo se o vestido não era novo, evitando assim um mal-estar. Resolveram jantar no restaurante huang pin, no bairro da Pituba. O jantar transcorria tranqüilo até Orlando tocar no assunto do convite ao casal paulista.

            — Você convidou o casal para ficar em seu apartamento sem ao menos me consultar?

            — Ah! Não comece, tive meus motivos...

            — E, ao que parece, seus motivos não me incluem... – Tiane usa um tom de represaria a atitude de Orlando.

            — Neste caso, em especial, não tive como incluí-la. O que queria que fizesse? Que dissesse ao telefone um minutinho, Chefe. Vou ligar para minha namorada para pedir que ela participe da decisão de convidá-lo, caso eu não encontre hotel, para vocês ficarem em meu apartamento... Ah! Me poupe.

            — Não. Imbecil. Você diria que procuraria o hotel, me consultava, claro que eu não aceitaria, e, simplesmente, diria que infelizmente não conseguiu encontrar o quarto...

            — Que mal há em deixá-los ficar em meu apartamento? O cara é meu chefe, sempre me tratou muito bem. Você sabe que nesta época sem ter uma reserva não se encontra hotel em Salvador...

            — E eu que fique sem minha privacidade? – Tiane demonstrava impaciência.

            — Nós não íamos para ilha?

            — Não vou poder viajar – explicou Tiane – Meu professor de filosofia me pediu para ajudá-lo na correção de uns trabalhos....

            — Claro! Entendi. Eu não posso oferecer meu apartamento para meu chefe que vem de São Paulo, mas você pode desmarcar nossa viagem para corrigir trabalhos...

            — Você sabe que a casa de minha mãe enche de crianças nos finais de semana... Olha! Quer saber de uma coisa... fique lá com seus paulistas... que eu me viro.

            Orlando nem conclui o jantar e, abruptamente, jogou os talheres sobre a mesa, bebeu de um gole só o uísque, levanta o braço e solicita a conta. Tiane, em tom de murmúrio, diz ridículo, e calmamente continua sua refeição. Orlando levanta-se retira da carteira dinheiro suficiente para cobrir as despesas e retorna ao carro, onde, pensativo, acende um cigarro e espera o demorado retorno de Tiane que continuou o jantar como se nada tivesse ocorrido. Fizeram silêncio no trajeto de volta até o apartamento de Orlando.       

              

               

Ao chegarem a seu apartamento, Orlando, admirou-se com a presteza de dona Graça, no entanto, Tiane não ficou satisfeita com a idéia da mudança de quarto. Por mais que Orlando tentasse explicar seus motivos, Tiane não os aceitava. O desentendimento chegou ao ponto de Tiane chamar Orlando de puxa-saco e baba ovo. O que o ofendeu e resultou em uma briga séria. Tiane, muito irritada saiu batendo a porta. Orlando, ainda convicto de sua atitude, pois não atentara para uma má interpretação de sua posição, fincou o pé. Considerou a atitude de sua companheira como imbecil, inconseqüente e leviana. Após duas doses de uísque, já mais calmo, antes de deitar-se, Orlando telefonou para  Tiane tentando uma reconciliação. Tiane não havia chegado em casa, o que colocou em Orlando, a idéia de um rompimento definitivo.

 

0

 

Na manhã seguinte, Orlando inaugurando suas férias, só acordou com o ruído do telefonem, por volta das 10:30 horas da manhã. Sem dar muita importância a insistência do aparelho em tocar, e, acreditando ser Tiane, recusou-se a atender. Foi ao banheiro, arrumou-se, e como já passava das 11:00 horas, pegou seu carro e partiu para receber Guilherme e sua esposa. Chegando lá, tomou o desjejum em um dos bares no próprio aeroporto, e foi esperar Guilherme na sala de desembarque. Não demorou até a chegada do vôo esperado.

— Orlando! — Gritou Guilherme ao vê-lo. Orlando caminhou rapidamente em direção a Guilherme que, acompanhado por Marta, veio logo indagando:

— Conseguiu o hotel ?

Orlando, antes de responder, olhou fixamente para Marta, e se espantou com sua beleza e elegância. Ela Trajava um vestido branco de tecido fino, mostrando os contornos de seu corpo escultural. Os olhos verdes e grandes, destacavam-se em um rosto com traços finos e harmônicos. Porem o que lhe despertou maior atenção, foram os seios grandes e duros da esposa de seu patrão.

            —Vamos andando, —  sugeriu Orlando. —  Meu carro está logo ali no estacionamento.

Ao chegarem no carro, Orlando gentilmente abriu a porta; Guilherme entrou e sentou-se no banco traseiro. Marta sentou-se no banco dianteiro ao lado de Orlando. Logo no início do trajeto de volta, Marta pediu:

— Podemos ir direto a um restaurante?

— Vamos passar em minha casa primeiro para deixarmos as malas. É caminho. — Ponderou Orlando.

O trajeto até a casa de Orlando transcorreu em silêncio, exceto por alguns questionamentos de Guilherme, ao qual Orlando respondera monossilábico. Ao chegarem, Orlando, tentando demonstrar simpatia, ajudou Guilherme a carregar as malas até o apartamento. Orgulhoso, Orlando  mostrou o quarto que colocara a disposição do casal. Marta apreçava a ida a um restaurante. Guilherme preferia descansar da viagem, porém, dada a insistência de Marta, decidiram pelo almoço. Orlando sugeriu o restaurante “Alto de Ondina” e apresou-se em chegar ao carro.

— É, Orlando. Esse seu “carrinho” sem a capota deve ser ótimo para pegar uma praia.

— É um Dakar. Excelente  para que mora próximo ao mar.

— Você bem que podia comprar um igual para mim. — Sugeriu Marta

            — Vou pensar no seu caso, querida.— Respondeu Guilherme  com desdém.

Orlando guardou silêncio até o restaurante, estava querendo a todo custo agradar Guilherme, sentia-se grato pelo tratamento que recebera desde que assumira a gerência da sucursal. Ao chegarem ao restaurante, tanto Guilherme quanto Marta, ficaram fascinados pela beleza da vista. O mar para Orlando era coisa comum, mas para o casal de Sulistas, tinha todo um sabor de descoberta. Vendo que o casal se abismara pela colorido do mar, Orlando persuadiu o garçom colocar a mesa em um patamar que mantivesse o panorama e a ventilação natural da área.

— Bela sugestão Orlando — Elogiou Marta.

— Então Orlando, como vão as coisas na filial?

— Estão ótimas, as metas do trimestre foram batidas em meados de novembro. O que me garantiu poder entrar de férias.

— É, você e um baiano competente, a diretoria está muito contente com seu trabalho e ...

— Guilherme, me perdoe, mas vamos deixar o trabalho de lado, estamos de folga. — Interferiu Marta.

          — É verdade... — Concordou Guilherme tecendo um comentário — Orlando é um desses baianos atípicos.

— Não, chefe. — reagiu Orlando — Baiano de corpo e alma. E com muito orgulho.

— Não quis lhe ofender, Orlando. — Desculpou-se Guilherme. — Marta intercedeu em favor do marido.

— Ele só quis lhe elogiar...

            — Eu sei, Marta. É que me orgulho do que sou. E de maneira alguma me ofendi. Eu vou pedir um cerveja. Vocês querem?

            — Prefiro uma caipirinha. —  Optou Marta.

            — Eu vou de uísque.— Disse Guilherme.

            Enrolando a manga da camisa, e desabotoando alguns botões, Orlando começa a demonstrar sua própria personalidade, até então retida, pela necessidade que sentia em ser educado.

            — Está calor! — Garçom, rápido! Traga uma cerveja gelada, um uísque e uma caipirinha. — Que marca o uísque Guilherme?

            — Black & White.

            — Um Black White, por favor! —  Orlando, por estar a um pouco longe do garçom, elevou o tom de voz. Marta puxando assunto perguntou:

            — Me diga, Orlando? O que há de tão especial em ser baiano?

            — Não sei se a palavra é especial. Claro que o há um jeito baiano de ser, difere do jeito do carioca, que é diferente do jeito do mineiro ou do potiguar etc , até porque apesar das diferenças individuais, existe mesmo um jeito próprio na maneira de se comportar dos  baianos, dos paulistas, dos cariocas...

            — Como assim Orlando? — Questionou Guilherme.

            — Por coincidência, hoje mesmo, remexendo entre revistas que tinha arquivada, encontrei uma entrevista falando sobre o assunto, e por incrível que pareça estou com a revista na mala do carro.

            — Pegue lá. — Sugeriu Marta. — Orlando caminhou rápido até o carro, pegou as revistas e retornou à mesa. Sentou-se, folheou a revista, e marcando o local com o dedo, entregou a Marta. Ela leu em voz alta:

            — “ ...A vida é muito dura, é muito difícil para o povo. Viver é quase um milagre e esse milagre o povo realiza diariamente. No entanto, apesar dessa dificuldade, dessa dureza, o povo não perde sua capacidade de rir, não perde sua capacidade de superar tudo isso e ir adiante. A cortesia do povo do homem pobre baiano, é uma coisa extraordinária...” — Tá, tá, tá, —ela recomeçou mais tarde —  “...eu poderia dizer também que é um povo extremamente educado, e, usaria mesmo termo ‘civilizado’, bastante. Civilizado no sentido de que tendo uma doçura interior enorme, ele não tem nenhuma tendência a se dobrar, a se curvar. Para mim o que define o homem da Bahia é que o mais pobre homem da Bahia, sente-se igual ao homem mais rico, isso no sentido de que ele te trata com a maior gentileza, com a maior doçura, mas ele quer, igualmente ser tratado por você da mesma maneira. Se você o trata de cima, ele imediatamente se modifica, não aceita e não admite.”

— De quem é essa entrevista, Orlando?

            — O entrevistador é Ariovaldo Matos, um jornalista e escritor da terra. O entrevistado é Jorge Amado, que não necessita maiores apresentações.

             — Vocês se orgulham muito do Jorge, não é ?

            — Com raras exceções, creio que todos os baianos se orgulham, não só do Jorge Amado... De Gregório de Matos à João Ubaldo Ribeiro, na literatura. De Dorival Caymmi à Bel, na música. De Mário Cravo aos oleiros da  feira  de Caxixis  nas artes plásticas. De Glauber Rocha à Orlando Senna  na sétima arte. Enfim, em se tratando de cultura, a Bahia é muito rica.

          — A Bahia foi a primeira capital do pais — Afirmou Guilherme.

          — É, nossa história é lindíssima, apesar de triste. Triste porque ainda existem dois povos baianos, os ricos, que são muito, muito poucos,  e os pobres, esses sim labutam no dia a dia pela sobrevivência, eles são os verdadeiros criadores da cultura baiana. Uma cultura que se diferencia do resto do pais. Não quero dizer que não existam uma outras culturas populares em nosso país, existe sim. Também existem diferenças regionais marcantes dentro da própria Bahia, que se diferenciam muito da cultura da capital. Na capital há uma classe média, formada em sua maioria por profissionais liberais, migrantes e descendentes de migrantes do sul e sudeste que vieram em maior número com a chegada do Polo Petroquímico de Camaçari.

            — Mas Salvador, digo a Bahia é historicamente rica. É um estado conhecido e visitada por sua arquitetura — Observou Guilherme.  

            — Salvador tem duas caras, a Salvador das  igrejas, museus, fortes, faróis, etc. Que sofre forte influencia do estilo barroco, é a Salvador histórica. E a nova Salvador, em estilo moderno: O teatro Castro Alves, o Centro de Convenções, o prédio da Casa do Comércio, as edificações do CAB um exemplo é  a igreja do Centro Administrativo, essa ,é uma verdadeira obra de arte. E ainda tem a arquitetura de vanguarda, onde a cor domina a nova Salvador. Porem na arquitetura existe a forte influencia da burguesia. Porém na música, no teatro, no artesanato, na dança, na religiosidade e no estilo de ser, é o povão quem realmente define a cultura. Salvador permite o equilíbrio entre o popular e o erudito, entre o histórico e o pós moderno. Ao mesmo tempo em que “O Estado” está preservamos nossa memória cultural, o povo baiano está oferecendo ao mundo importantes produções artísticas nos diversos segmentos culturais. O nosso folclore é riquíssimo.

            — Isso sem falar em Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal, Betânia e aquele da timbalada... Adoro ele... — Opinou Marta.

            — Carlinhos Braw... — Orlando esclarece.

            — Prefiro a Daniela Mercury, a Ivete Sangalo, a Carla Cristina das meninas... — Marta, dando um beliscão em Guilherme, complementa — Carla Peres, Sheila Mello, Sheila Carvalho, desde que fiquem com aqueles shortes ... Guilherme dá uma gargalhada.

— Agora sou eu quem pergunto:

            — O que é que as baianas tem?

              A baiana tem acarajé, carurú... Sério! Para mim a mais marcante característica da mulher baiana é a sensualidade. As danças, os ritmos e o clima,  junto a fatores históricos, acrescido de uma maneira festiva de viver, faz das baianas um ser de estrema sensualidade. A Bahia está longe de ter as mulheres mais bonitas do Brasil, apesar de Marta Rocha, mas com certeza, tem as mulheres mais sensuais. O baiano no geral já fala pegando. O toque físico é tão comum, que pode assustar a alguns que aqui cheguem  desavisados. A  mulher baiana  no geral, é vibrante, manhosa e sensual. Mas refiro-me a mulher pobre baiana, a mulher da elite baiana é exatamente como as mulheres da sociedade do sudeste ou do sul do Brasil. Eu acredito que quando Gilberto Gil escreveu — Orlando canta  —“ Toda menina baiana tem um santo que Deus deu / Toda menina baiana tem encanto que ...” — estava se referindo a essa menina/mulher do povão da Bahia.

            O garçom, aproxima-se com as bebidas e o cardápio. Orlando cala-se. O garçom coloca as bebidas à mesa e sugere:

            — Vocês poderiam abrir com uma puã de caranguejo. Está ótima, as bocas estão enormes, vieram de Canavieiras...

            — Traga logo duas poções. — Ordenou Orlando.

            O garçom mal saíra, e Marta curiosa perguntou:

            — Puã... O que é? — O próprio Guilherme respondeu.

            — São as bocas do caranguejos empanadas. São uma delícia, você vai gostar. — Voltando-se para Orlando —Mas, voltando ao assunto da cultura, eu realmente acredito que tanto na cultura popular, quanto na cultura mais elitista, a criatividade  do povo baiano finca garras... — Marta interrompe.

            — O que chateia nos baianos é a preguiça. Aqueles funcionários seus são uns lerdos. Você tem que concordar comigo. Baiano é preguiçoso! O que mais se comenta  sobre os baianos lá fora, é que são preguiçosos.

            — Dizem que somos preguiçosos — rebate Orlando — e por vezes, sei que parece. No entanto, para meu espanto, foi um francês meio louco, meio filósofo e meio poeta, que me abriu os olhos. Ele falava mais ou menos assim: — Orlando imita o Francês.

            — “ Dizem que os baianos são preguiçosos, principalmente os que vivem à beira do mar. No entanto, conhecendo-os melhor, ver-se que não. Ao raiar o dia, os homens já estão no mar com suas redes de pesca, ou a atirar suas tarráfas. As mulheres, saem cedo para  mariscar na areia da praia, catando os papa-fumos, sururus e ostras em  meio  aos grauçás que  deslizam sobre as areias ao sol da manhã. Também, com estrema coragem, tem os catadores de coco, que arriscam-se nos  topos  das árvores para ganharem uns poucos trocados. Muitos vi subirem em coqueiros que atinge  quase quinze metros, sem nenhuma segurança, portando, no máximo, seu facão. Enquanto isso,  suas mulheres, já estão na beira dos rios ou da lagoas, para  lavarem imensas trouxas de roupa... Não se deixe confundir pelo jeito  saudável da boa conversa nas calçadas de suas casas rústicas, onde o fogão a lenha queima  a panela de barro no preparo de  deliciosas moquecas. A primeira vista, os baianos parecem preguiçosos, dada a lentidão em que  vivem. No entanto, não há preguiça na manha dessa gente. É que o tempo aqui passa lentamente, e eles, seguem em seu ritmo manemolente...

            O garçom aparece com as porções de puã. Orlando pede outra cerveja. Guilherme pergunta a Orlando sobre a religiosidade do povo baiano.  

            — É um povo muito místico, religioso. Porém de uma forma baiana de religiosidade. Assisti a uma entrevista de um sociólogo que tratava sobre esse assunto. Nessa entrevista ele chamava os baianos de exóticos . Não creio que a palavra seja essa...

            — Nem eu — Interfere Guilherme — Há religiosidade e o misticismo é  muito forte  na personalidade dos baianos. Quase tão forte quanto sua sensualidade. Tenho um grande amigo que mora no Rio, que é baiano. Ele é católico de ir a missa todos os domingos, no entanto, usa um patuá no pescoço.

            — Isso. — concorda Orlando com Guilherme — O baiano é por natureza um povo místico e plural. É comum católicos convictos envolvidos com espíritas e vice versa. Aqui chamam sincretismo religioso. Os negros eram proibidos de adorarem seus Deuses e Santos, então, passaram a  se utilizar de imagens de Santos Católicos para cultuarem sua fé. Jesus Cristo virou Oxalá, Santa Barbara virou Iansã ou Iemanjá, eu não sei bem qual das duas, São Jorge virou Oxosse etc. Com o tempo, acabaram por fundir-se. É comum ver uma  estatueta de São Jorge em qualquer terreiro de Candomblé, Iemanjá; branquinha, branquinha. Não há um confronto religiosos. Outra coisa, o santo e o profano, convivem lado a lado, sem que isso seja gerador de qualquer sentimento de culpa. A natureza do baiano o impede de seguir normas rígidas de conduta. Sua capacidade de auto perdão é imensa, seu Deus é perdão e não castigo. Houve até uma tentativa em separar o santo do profano nas  Festa do Bonfim e Iemanjá. Não conseguiram. Só tiraram os trios elétricos, o resto continua o mesmo.

            — Deve ser por isso que o nível de Stress aqui é baixo. Baiano acha tudo porreta. — Completa Marta. — Orlando sorri e completa.

            — Nosso povo sofre muito. Existe a falta da oferta de emprego, a fragilidade do sistema de saúde, a péssima distribuição de renda, a falta de um projeto real para educação. Apesar da Bahia ser um estado rico. O povo da Bahia não pode usufruir dessa riqueza. Aqui enfrentamos problemas de diversas naturezas. E, até ai, nossa religiosidade influi.

            — Rezar não resolve esses tipos de problema. —  Guilherme opina — Orlando tenta dar uma explicação.

            — Realmente, rezar não soluciona esses tipos de problema, no entanto, a forma do povo baiano em encara-los é diferente. o povo da  maioria dos nossos municípios ainda mantém uma forma tribal de sobrevivência . Apesar de possuir Câmara de Vereadores, Prefeito etc. A subsistência  do povo pobre é tribal. Digo tribal porque independe da economia formal no seu básico, ou seja: na alimentação, na moradia, até no comercio. As culturas indígena e africana ainda são muito fortes na Bahia. Aqui quando se adoece procura-se um benzedeira  ou vai-se no mato catar pau-de-rato, erva-doce, erva-cidreira ou um milomem para se curar. Deu fome é só ainda ir apanhar um mamão verde para fazer uma salada, ou ir catar mariscos para fazer um almoço. E tem soluções que são utilizadas até por quem tem dinheiro. Eu mesmo, tenho em casa cravo de infusão na cachaça, para usar como anestesico, em uma eventual dor de dente, e já me curei de uma pneumonia tomando mingau de cachorro.

            — Mingau de cachorro? O que vem a ser isso meu! — perguntou Marta.

            — Não se assuste com o nome Marta. São dentes de alho amassados, leite de vaca ou cabra, limão, açúcar, e farinha de mandioca. Eu ainda, coloco matruz pisados no leite para facilitar a expectoração. Sou viciado em chás, principalmente erva-doce e erva-cidreira. Todos esses conhecimentos são comum as Mães de Santo, benzedeiras e parteiras. Lembram do francês que falei, ele também dizia assim: — Orlando imita novamente o Francês; —“ Esta vendo essa gente simples. Não os julgue ignorantes por suas crenças. Eles sabem muito, conhecem as ervas, os ventos e as marés. Além disso, muitas lições de vida aprendi com as superstições que  povoam o imaginário coletivo dos moradores desse lugar. Ela se mantém no âmago desse povo como um guia  levando-os a um porto seguro. O certo é que são felizes. O certo é que aqui, muito temos a aprender, e muito pouco a ensinar.” — O povo baiano vive, ou sobrevive ,quase que  independente do sistema, e é por isso que superam a pobreza, é isso que os tornam livres... 

            — Vamos pedir o almoço? —Guilherme interrompendo discurso de Orlando, fala — O que você ma aconselha Orlando. —  As puãs estavam ótimas, mas quero me satisfazer.

            — De comida baiana? —Orlando pergunta com gentileza.

            — Sim, mas nada de abará, acarajé, caruru, vatapá. Quero coisa nova. Algo que nunca tenha experimentado.

            Observando o cardápio, Orlando não vê nada de muito original. Chama o garçom e pergunta:

              Pode-se pedir alguma coisa que não esteja no cardápio?

               Posso perguntar ao “chefe”. Ele é quem decide.

              Então peça uma “Roupa Velha”. Quando voltar traga-me outra cerveja, uma dose de  Domec, uma umburosca ou cajurosca para a senhora experimentar, e outra cumbuca de gelo para o uísque do meu patrão. Traga rápido por favor!

            — Perdoe-me a ignorância, mas não tenho a menor idéia do que seja roupa velha. Umburosca eu sei. É uma caipirinha de umbu, certo? — Perguntou Guilherme.

            — Se é caipirinha, não pode ser de umbu. — Corrigiu Marta.

            — Aqui pode! — Orlando esclarece Marta — Se aqui, pode cocada de amendoim, porque não caipirinha de umbu?

            — Sem gozação, Orlando. Cocada tem que ser de coco.

            — Não senhora, vai até a baiana e pede uma cocada. Ela vai oferecer as três. A cocada branca, de coco. A cocada puxa, também de coco e a cocada de amendoim. Que é amendoim torrado com açúcar...

            — Isso não é cocada! é pé-de-moleque.

              É diferente do pé-de-moleque.

            — Chega vocês dois! — O que é “Roupa Velha” Orlando? — inquiriu Guilherme.

            — Uma moqueca diferente, é feita com carne seca ou lombo, e ovos. Muito saborosa.

            O garçom retorna com as bebidas solicitadas e confirma o pedido.

            — Três  porções de “Roupa Velha”. Acompanha arroz branco e farofa de dendê.

            — Prefiro a farofa de manteiga. — solicita Orlando.

            — Três porções de farofa de manteiga, Ok — O garçom anota o pedido e sai.

            — Orlando, é bom que essa tal de “Roupa Velha” seja gostosa, eu estou faminta.—  afirmou Marta.

            — Eu simplesmente, adoro, Marta. E vocês, já decidiram o que vão fazer amanhã ?

            — Ir ao mercado modelo ou ao pelourinho. —Marta sugeriu.

            — Vocês topam um programa realmente de baiano, topa Guilherme?

            — Se for igual ao de hoje, vamos nessa.

            — Não. É um programa realmente diferente, algo que vocês jamais fariam sozinhos.

            — E então querida, topa?

            — Olha lá, Orlando. Vê onde você vai me meter com meu marido.

            — Vocês vão ter que confiar em mim. É um pouco distante. Fica numa cidade aqui próxima. Em Feira de Santana.

            — Para onde você pretende nos levar?

            — Para um lugar onde vocês irão conhecer o verdadeiro povo baiano...

            O almoço durou até às oito horas da noite, Guilherme e Marta ficaram bêbados e ao chegarem em casa foram direto para cama. Nem se deram ao trabalho de tirarem a roupa. Dormiram do jeito que estavam. Orlando levemente etilizado, tomou um banho e ligou para Tiane. Ela se recusou a falar com ele. Ele ficou furiosos, tomou mais algumas dozes de uísque deitou-se no sofá da sala, e adormeceu.

 

0

 

 

            Na manhã seguinte, Orlando acordou sedo, antes mesmo de cumprir o seu ritual do acordar, correu para cozinha. Lá chegando, assustou-se ao ver Marta vestindo apenas uma calcinha e fazendo café. Orlando tentou fingir que não reparara o fato, virando-se de costas ia sair.

            — Orlando, está tudo bem. Venha até aqui. — Marta pediu maliciosamente.

            —Eu vinha fazer o café, mas vejo que você já está providenciando. Vou escovar os dentes, tomar um banho...

            — Me dê uma ajuda antes, e deixe de ser cínico. Eu vi como você me comia com os olhos, Guilherme pode não ter notado, mas eu sou mulher, então vem e me ajuda. Não estou conseguindo achar o açúcar.

            Orlando entrou na cozinha tentando aparentar não estar angustiado com a situação. Todavia, Marta lindíssima, com seu par de  seios grandes, empinados, presos a um corpo escultural e um lindo rosto, o fez tremer.

            — O que foi Orlando, nunca viu uma mulher antes?

            — Não é isso Marta, o Guilherme pode acordar, ver, e imaginar coisas, e isso pode me prejudicar.

            — Só porque lhe pedi que apanhe o açúcar?

            Orlando não deu resposta, apanhou o porta açúcar, colocou ao lado da cafeteira e se recolheu ao quarto. Escovou os dentes demoradamente, alongou o banho o máximo possível, vestiu-se de forma jovial, tomou coragem e saiu do quarto indo até a sala, nela, Guilherme já tomava café.

            — Até que enfim acordou Orlando. Eu já estava para bater na porta de seu quarto. O que pretende fazer hoje ?

            — Não tenho a menor idéia... Uma praia...

            — Marta, enrolada a uma toalha, entra na sala, e sem cerimônia entra no assunto.

            — Você nos prometeu um dia verdadeiramente baiano...

             — Mas hoje é reveillon... e... — Tentou argumentar Guilherme.

            — O reveillon é a noite, ainda são seis da manhã.

            —A Marta não vai deixar você fugir dessa promessa, baiano. — Falou Guilherme.

            — Se é assim, é só vocês se arrumarem.

            O casal arrumou-se e partiram para a cidade de Feira de Santana. O assunto do carro girava em torno das festa baianas. Orlando explicava ao casal.

             — Eu adorava o carnaval. Pulava sempre de pipoca, mas com a chamada “profissionalização do carnaval”, isso acabou. Nossos governantes venderam o carnaval aos blocos pagos, as indústrias de cerveja e as empresas que montam camarotes milionários. Eles tiraram da população mais pobre o carnaval, ou seja, o carnaval de graça, onde a população local se divertia. A população pobre  foi esmagada a título proteger uma pequena classe burguesa que, comprando abadás, pulam cercados por cordas e segurança, é a privatização as vias públicas durante a festa. Afastaram o folião pobre local. Aliais, aqui na Bahia, se merda valesse dinheiro, pobre, por força de lei, tinha de nascer sem o fiofó. No início da chamada “profissionalização do carnaval” ainda se podia brincar em praças, largos ou mesmo no passeio. Hoje elas são cercadas, ou cedidas para instalações de camarotes. Ou se pula o carnaval em blocos ricamente pagos, ou em camarotes. Os pobres ficaram restritos a servirem como puxadores de cordas, catadores de latas de alumínio ou camelôs de becos. Antes, dezenas de trios elétricos eram patrocinados pela prefeitura , o mais famoso, claro, o de Dodô e Osmar que,  misturados a afoxés, e blocos áfros desfilam e  tocam a chamada música carnavalesca. Hoje é a música axé, e o carnaval é para turistas, que junto a adolescentes da pequena burguesia, chegam  a pouco mais de 2 milhões de foliões por dia brincando o carnaval...

            — É o progresso, Orlando. Salvador  é uma cidade turística, e turismo é divisa. É fonte geradora de emprego é a mais democrática forma de indústria, todos ganham.

            — Qual é Guilherme. Aqui só ganha os vendedores de fitinha do Senhor do Bonfim, que por sinal é industrializada em São Paulo, e só rende uns vintens para a população local. Quem ganha com o turismo são os hotéis, os restaurantes e umas poucas baianas de acarajé.

            — Falando em hotel, você conseguiu um hotel para passarmos o reveillon? — Perguntou Marta. 

            — Se não conseguir hotel para vocês hoje, vamos para a “Escuna Juliana”— responde Orlando — é de Sérgio, um amigo meu, ela vai sair da Ribeira para participar da Procissão Marítima do Nosso Senhor do bom Jesus dos Navegantes. Vocês vão adorar. Centenas de barcos invadem a Baia de Todos os Santos.— Orlando mudando de assunto pergunta:  —Vocês vão ficar até festa do Bonfim?

            — Vamos ficar, Guilherme ? — Perguntou também Marta.

            — Está sonhando Marta. Dia cinco, já estaremos em casa — Guilherme cortou o assunto. — Férias só em junho.

            — Então, já são meus convidados. Vou levar vocês para assistirem uma

guerra de espadas.

            — Já ouvi falar — Comenta Marta. — Orlando explica.

            —A espada é uma espécie de rojão, feita com gomos de bambu, socados com barro, recheados com uma mistura de pólvora e limalha de ferro, enroladas por um cordão encerado, chamado de cerol. A noite, homens e mulheres vestindo luvas e roupas grossas, desfilam nas praças dando um show  de coragem e beleza. É plasticamente muito bonito, porem perigoso. Solta a espada,  transforma-se em uma arma. Ela sai velozmente, ziguezagueando. Tanto  pode derrubar  com o impacto, quanto pode queimar com sua chama. — Estamos chegando, que horas são Guilherme?

            — Quase nove.

            Orlando estaciona o carro em frente a feira, e, enquanto anda, comenta. — Se preparem, agora vocês vão conhecer a Bahia dos baianos. É uma verdadeira Babilônia.           Cabras, patos, galinhas misturada a porcos e demais animais vivos. Esses animais são abatidos na hora a pedido do freguês.

            Ao entrarem em um dos enorme galpões, os olhos de Marta brilharam. Utensílios domésticos nos mais diversos materiais. Panelas de barro, candeeiro, filós, cumbucas de variados tamanhos, moringas, cacimbas, caldeirões em ferro fundido, gaiolas de pássaros em diversos tamanhos de metal ou de tiras de vime, peneiras, espremedor de alho, de limão, tamancos de madeira, etc. Orlando notando o interesse de Marta nas bugigangas alertou.

              Mas, é naquele galpão que mora a diversão. —  Apontando com o dedo, Orlando pergunta — Vamos?

            — Vamos — Responde Marta.

            — Baiano, não estou vendo nada de interessante aqui — Guilherme comenta desconfiado.

            — Não é o local, mas quem o freqüenta, venham comigo...

            Todos caminham por um dos galpões. Orlando vai a frente andando rápido até atingir a lateral, onde salas, com aproximadamente três por quatro metros, funcionam como bar. Postas à frente, mesas plásticas estão prontas para atender aos freqüentadores. Um cheiro de gordura, misturado a uma soma indecifrável de odores, enchem o nariz  do  visitante.

            — Pedro! Trás uma cu de foca! — Gritou Orlando, sentando-se.

            — Tá saindo patrão — grita Pedro em resposta — E dona Tiane?.

            — Brigamos — responde Orlando —  Ela já deve tá de macho novo. Não quis nem vir. ( Tanto Guilherme quanto Marta, notam a mudança brusca no comportamento de Orlando)

            Um homem forte caminha em direção a mesa, carregando uma cerveja segura pela tampa. Ao se aproximar fala com uma voz rouca.

            — Deixa de brincadeira, hôme. Dona Tiane é mulher séria, e ela gosta é do amigo.

            Pedro, dono do estabelecimento, coloca a cerveja sobre a mesa, que de tão gelada está coberta por uma camada branca e fina de gelo. Caminha de volta ao balcão, apanha três copos vazios, que nitidamente serviram de embalagem para extrato de tomate, olha-os, caminha para detrais do balcão e vai lava-los.

            — Dirigindo-se a Guilherme e a Marta, Orlando comenta sussurrando. 

            — O que vocês vão viver agora, é a vida real dos baianos. Sei que vocês estão assustados, que a higiene é precária. Mas confiem em mim, ninguém morreu por aqui devido a isso. Observem o linguajar, as pessoas ao redor, soltem-se. Vou pedir um digestivo. — Pedro, traga também três doses de gengibre, da boa.

            Marta e Guilherme mostrando-se complemente deslocados. Ficaram calados. Notava-se porem, que observam tudo em volta com muita curiosidade. 

            Pedro retorna com os copos lavados, e as doses de gengibre servida em copos descartáveis. Coloca-as sobre a mesa e pergunta:

            — Musica?

            — Bota baixinho... a de sempre. Pedro sai. Orlando vira-se para os acompanhantes e explica — Bebam um pequeno gole de gengibre sem engolir, e tomem por cima um gole da cerveja. Deixa que eu encho seus copos. Se pegar no meio da cerveja ela empedra, vira sorvete.

            Um pagode de Martinho da Vila, começa a tocar como fundo musical.

            — Já tive mulheres/ de todas as cores ...

            Marta dá um gole de gengibre e segue a recomendação de Orlando. Guilherme acompanha. Orlando puxa conversa.

            — O mais interessante são os tira-gostos. É só comprar, trazer ao boteco, e mandar preparar na hora. A mão desse homem no tempero é divina. Rãs, carne de bode, carne de boi ou porco. Tudo à disposição. É só comprar e mandar fritar, assar ou cozinhar, como, e o que  se queira comer. Vocês vão notar que daqui a pouco isso aqui vai ficar lotado. Tipos interessantíssimos vão surgir...

            Marta, deu um gole que secou a dose de  gengibre, bebeu todo o copo de cerveja e falou interrompe Orlando.

            — Vou dar uma volta por ai, vou ver se encontro algo que me agrade.

            Retirando a carteira da bolça, Marta levanta-se e pergunta a Guilherme:

            — Vem comigo, Guiga?

            — Não. Pode ir, lembre-se  do nome do bar, se por acaso se perder, ligue para o celular que vamos busca-la.

            — Não se perde não. É só dizer que está no bar de “Pedro Barriga”. Alguém a trais de volta. — Orientou Orlando.

            — Então tchau... Comportem-se meninos!

            Marta saiu, Guilherme, tomando outro gole, reiniciou a conversa.

            — Baiano, você é maluco. Viajar mais de uma hora só para tomar cerveja com gengibre.

            — Não patrão, você é que está apressado — virando-se para o dono do bar — Pedrão, manda comprar umas seis rãs e prepara para gente. Assadas?

            — O ensopado de carneiro já está saindo...

            — Rãs! Pedrão! Trouxe meu chefe de São Paulo, que é especialista em rã para experimentar as suas, e você me vem com carneiro! Manda busca as rãs...

            — Agora eu quero ver Orlando, eu realmente adoro rã, é um dos pratos que mais gosto. Em Sampa tem lugares especializados em servi rã.

            — Melhor do que as de Pedro. Duvido!

            — Que caixas de aço são aquelas que esta de costas para mim?

            — Televisor de cachorro.

            — Ha! Até aqui tem isso?

            — Tem. — Pedrão — Grita Orlando. Traga uma de figo, e outra gelada.

            — Duas, eu também quero — Guilherme completa o pedido.

            — Guilherme— Orlando sussurra — se você não estiver gostando, nos vamos para outro lugar...

            — Pode me chamar de Guiga, baiano.

             — Você esta sério, Guiga. Pensativo, meio deslocado. Assim que Marta chegar, nós voltamos para Salvador. Você é quem escolhe.

            — Baiano. Meu problema é outro. Eu e Marta estamos com um relacionamento frio. Foi por isso que resolvemos vir para Bahia passar o reveillon. O fogo apagou, já fazem alguns meses que não temos relações, você entende... É isso. Mas pelo amor de Deus, não comente nada...

            — Fique tranqüilo. Hoje vocês vão esquentar. Confie em seu amigo. Desde ontem que notei que vocês não se beijavam, não se tocavam, mas não quis perguntar nada, você compreende.

            — Só lhe falei porque sei que você é discreto. É meio doido, mas é uma boa pessoa.

              Obrigado, Guiga — Pedrão, porra!— Grita novamente Orlando — tá demorando.

            — Calma ! filho dum cabrunco, — Pedro grita de volta — estou  levando um caldinho de mocotó, até preparar as rãs. — Pedro trais dois copos de caldo de mocotó, uma cerveja, um molho lambão, e os digestivos — O menino já foi comprar as rãs, assim que tiverem prontas eu trago. Quer que aumente o som? Vou colocar Zeca Pagodinho.

            — Agora não, Pedro. Deixa o bar encher mais... Estou conversando.

            — O amigo ai é de São Paulo? — pergunta Pedro.

            — Sou — responde Guilherme solicito.

            — Já trabalhei lá. Vendia pastéis no viaduto do chá. lá, encontrei a baiana Isabel. Casei, e vim com ela para cá. Olha ali o nome do bar.

            Guilherme atendendo a Pedro, olha para as letras pintadas sobre uma placa de alumínio, presa no alto da porta do boteco. “ Boteco da Nega Isabel”.

            — Sua esposa era negra?

            — Não sinhô, ela era mulata. Nega era apelido. Era mulata de carnes dura, doutor. Folgosa como toda baiana que se presa tem que ser. Deleite nos manjares e no sexo. Mulher igual, doutor,  não acho mais. É por saudade que eu gosto de botar o disco de Zeca Pagodinho. Ele tem uma música que fala no nome dela... É que ela dizia que ele tinha feito em homenagem a ela. Sei que é mentira de minha cachorra, mas marcou... —Pedro enxugou os olho com o costado da mão emocionado.

            — E você, é baiano, Pedro? — Perguntou-lhe Guilherme.

            — Baiano, doutor. Filho de índia com italiano. Meu avô veio fugido de Porto; Porto Seguro. Ele matou fazendeiro de lá. Botaram ele para fora da aldeia. Bom de pesca, ele foi morar para os lados de  Itapuã, em Salvador. Trouxe minha vó e minha mãe. Minha mãe era lavadeira. Lavava roupa no Abaeté, na lagoa. O amigo conhece?

            — Vou conhecer — Orlando, você vai me levar para conhecer a Lagoa de Abaete.

            — Quando quiser...

             — Como eu dizia. Ela se apaixonou por um Italiano de nome Leonardo, meu pai. Era um bom homem, bom pescador. Tão bom que Yemanjá levou...

            — Bonita história, Pedro.

            — Não tem nada bonito em morrer afogado não, doutor...

            — Pedro, vai botar tua música — Interferiu Orlando.

             — Seu Orlando, deixa eu lhe pedir um favor? — O amigo não leva a mal— referindo-se a Guilherme — eu vou falar no ouvido dele (aponta para Orlando) é pedido, não é com o amigo não.

            Abaixando-se, colocando a boca próxima a o ouvido de Orlando, Pedro faz o pedido. — Sabe o que é... Minhas cervejas estão gelando lá em casa. O senhor podia ir buscar para mim?

            — Claro! Pedro. Precisava tanto segredo. Como é que você vai fazer. Vai fechar o bar.

            — Não senhor. Quando Jeonice chegar, ela vai com o senhor...

            — Certo, sogro.

            — Que é isso, seu Orlando! O que é que um bacana vai querer com uma neguinha do interior.

            — Que besteira é essa Pedro. Sua filha e uma mulher muito bonita. Ela que não ia querer nada comigo. Assim que ela chegar nós vamos, certo?

            — O senhor é gente, seu Orlando.

            — Vai, Pedro. Vai botar a porra do disco. —  Disse Guilherme.

            Ao dar um gole no caldo de mocotó, Guilherme opinou.

            — Porra baiano, ainda está quente, mais está uma delícia.

            — Ponha um pouco de pimenta. Mas põe pouco.

            — Qual é baiano? Como pimenta desde menino.

            Pedro aumentou o volume do som. Guilherme calou-se. Enquanto ouvia o som, Orlando cantarolava batucando na mesa - Caruru ou vatapá / no capricho moqueca de xareu /é o rango que vai rolar/ lá na caxanga de dona Isabel / caruru // Dona Isabel é uma preta baiana / que toda semana / arma um rango maneiro /onde a rapaziada / se sente amarrada / com a batucada e o sabor do tempero / lá tem chorinho, forro, capoeira/ é uma preservação das raízes/ e quando o pagode firma no terreiro/ pinta partideiro de vários matizes/ ... Do bar vizinho sai o garçom com um pandeiro e começa a acompanhar o batuque. O menino que voltava trazendo as rãs, ao entrega-las, pegou um tímbau. Colocou sobre a mesa de Orlando e perguntou.

            — Vai bancar as geladas, seu Orlando?

            — Vou. Vá chamar os meninos.

            Biriel, ajudante de Pedro, sai correndo, deixando o atabaque sobre a mesa. Marta, acompanhado por um garoto com um carrinho de mão, retorna ao bar. No carrinho, quatro vasos de barro, uma pequena carranca, um berimbau, dois chapéus de camurça e duas moringas de barro. Orlando Levanta-se arruma duas cadeiras juntas, puxa Marta e Guilherme e os coloca sentados lado a lado.

            — Tem cada coisa aqui! — Marta dirigindo-se a Guilherme — Dá para decorar nossa casa de praia inteira...

            — Mais tarde Marta. O maluco do Orlando vai financia um pagode.

            — Pedro, duas cervejas, e três rabos de galo. Desliga o som —pede Orlando.—Com o tímbau no colo, inicia o samba; o homem do pandeiro o acompanha.

            Tem sempre tudo no trem que sai lá da central / baralho, sorvete de coco, corda pro seu varal/ tem canivete, benjamim / tem cotonete, amendoim/ sonho de valsa / e biscoito integral / tem sempre tudo no trem que sai lá da central / chiclete picolé do china ...

            Biriel volta com mais dois amigos, um com um tamborim, um outro com um cavaquinho, e Biriel carrega um agogô.

            — Desce cerveja que o pagode vai pegar fogo — Grita Biriel.

            O samba recomeça, agora com música de Gil, o garoto do cavaquinho inicia: “ Omolu, Ogum, Oxum, /Oxum Maré, todo o pessoal / Manda descer/ Pra ver Filhos de Gandhi /  Iansã, Iemanjá, Chama Xangô / Oxóssi também /Manda descer Pra ver Filhos de Gandhi / Mercador, Cavaleiro de Bagdá / Filhos de Obá, / Manda descer ...

            A música rolando, chega a filha de Pedro, que foi direto rebolar a frente dos fregueses. Guilherme com fogo nos olhos, não conseguia para de olhar moça. Marta, concentrada na conversa que estava tendo com outra freqüentadora do bar, não tomou conhecimento de Guilherme. Guilherme levantou-se e foi pegar as chaves do carro na mão de Orlando. Argumentou a Orlando que ele estava ocupado, se ofereceu para ir buscar as cervejas com Jeonice. Saíram sem avisar a Marta. Orlando por sua vez, prestava atenção a tudo, e,  no intuito de distrair ainda mais Marta. Mandou Pedro servir as rãs, descer mais cervejas e colocar dois rabos de galo, um para Marta e um para ele. Largou o timbau na mão de outro tocador, e foi sentar-se ao lado de Marta. O coro continuava comendo novamente com Zeca Pagodinho — “Aquilo que era mulher / prá não te acordar sedo / saia da cama na ponta do pé / só te chama tarde sabia teu gosto /...” o pagode distraiu Marta por um bom tempo, mas nada de Guilherme retornar. Marta já meio chumbada, levantou-se e puxou Orlando para dançar. — Baiana que entra no samba / só fica parada, não dança não samba, não mexe/ nem nada... Marta, colando seu corpo no corpo de Orlando resmungou em seu ouvido — Gostou de me ver de calcinha?

            A pergunta feita com uma voz rouca de tesão, junto com roçar das cochas de Marta, fez Orlando ficar excitado. Marta descendo a mão segura no membro de Orlando e resmunga novamente.

            — Vou lhe comer hoje, baiano.

            — E Guilherme? — A voz de Orlando quase não sai.

            — Se ele me quisesse, era com ele que eu estaria dançando.

            Pedro, vendo que Orlando estava muito empolgado, entrou no pagode e, puxando Orlando no canto, comentou...

            — Se seu amigo chegar, não vai gostar de ver você, quase comendo a mulher dele em pleno bar. Se quer comer a branca, coma. Agora, tem que comer respeitando o amigo. Na manha, entendeu... na manha!

            — Valeu mano véio. Você e gente!

            Marta veio perguntar o que estava acontecendo.

            — Nada de mais —  Responde Orlando — Pedro acha que seu marido está bêbado, saiu para mijar e se perdeu. Vou procurar por ele.

            — Como é o nome daquilo vermelho que eu tomei? Quero outro.

            — É rabo de galo. É cana com vinho tinto doce.

            — Rabo de galo. Vou tomar mais um. E você baianinho, vá atras do seu patrãozinho, baiano bundão.

            — Orlando segurou Marta pela mão e a conduziu, fingido dançar, para os fundos do bar. Ao Chegar atrais de um amontoado de engradados vazios de cerveja, suspendeu o vestido de Marta, retirou sua calcinha, escondeu-se com ela atras da uma fileira, desembainhou o instrumento, e foi, aos poucos, penetrando Marta. Com movimentos rítmicos, a princípio lentamente  foi penetrando-a. Aos poucos foi acelerando o ritmo acompanhando os gemidos e a respiração de sua parceira, até ela atingir o clímax. Orlando sentiu todos os músculos do corpo de Marta se retesarem e relaxarem no gozo. Porem, Orlando estava encruado e continuou com os movimentos. Uma ansiedade lhe consumia o espirito, o risco de ser surpreendido por Guilherme, junto aos incessantes orgasmos de Marta, misturavam-se e aumentavam seu tezão, vibrando entre o prazer e medo, o tempo parecia não passar, porem e num último orgasmo de  Marta, Orlando conseguiu enfim atingir seu gozo. Tremulo e assustado, como quem acabara de cometer um crime, Orlando apanha a toalha de pratos, úmida dos copos que enxugara e como um assassino que dá fim ao corpo, Orlando apaga os vestígios do ocorrido. Marta, vendo a apreensão estampado no rosto de Orlando, andou em sua direção, pegou-o pelo pescoço e deu-lhe um longo e ardente beijo. Após limparem-se, o casal disfarçadamente, retornaram a frente do bar. Marta veio primeiro, com um copo de rabo de galo, que ela mesma preparou enquanto Orlando limpava os últimos vestígios do sexo. Orlando esperou um pouco, e depois ao voltar, levou a última cerveja do refrigerador, bebendo-a no gargalo. Entorpecido pelo prazer obtido, Orlando sentia-se nas nuvens. Marta desfilava um sorriso no rosto que acentuava o brilho no olhar que tanto chamou a atenção de Orlando.

            Pedro, que havia visto o casal entrar no fundo de seu boteco, caminhou em direção a Orlando, sentou-se ao seu lado e perguntou:

            — Faturou a branca?

            — Ela estava pedindo. — Resmungou Orlando como se pedisse desculpas.

            — Fez bem feito o serviço?

            — É. Levando-se em consideração o local, fiz.

            — Boca de siri.

            — Claro, Pedrão. Pega outro gengibre.

            — Agora não dá. Jeonice acabou de chegar, demoraram porque  seu amigo levou ela para um motel. Ela me contou. Ela sempre me conta, mas não faz mal não. Tô vingado.

            — É. está vingado.

            — Vou buscar os engradados no carro. Seu amigo está lá, se chega aqui um pouco antes pegava vocês... Mando seu amigo dizer a mulher dele que foi mijar e se perdeu?

            — Mande. Ele é gente boa comigo.

Não demorou Guilherme chegou. Marta dançava na frente do grupo de  pagode. Guilherme sentou-se ao lado de Orlando e nervoso foi perguntando:

            — Marta deu por minha falta?

            — Deu. Eu disse que você tinha ido mijar e deveria estar perdido por aí.

            — Acha que vai colar.

             — Vai. Ela estava tão entretida com o pagode, que demorou a sentir sua falta.

            — Obrigado, Orlando. — Falando bem baixinho Gulherme revela o que Orlando já tinha conhecimento.

            — Comi a morena. Ela é muito gostosa...

            — Boca de siri, ela é filha de Pedro. Você não me contou nada. Vê se não vai dar uma de besta e sair contando para todo mundo— Vamos embora?  Já esta ficando tarde Guilherme, chame Marta, vou pagar a conta.

            — Nada disso. Essa eu faço questão de pagar.

            — Pedro — gritou Guilherme — A de doer.

            — Traga uma saideira e meu gengibre.

            — A conta dá R$ 83,00 reais, a saidéira é por conta da casa.

            Guilherme puxou uma cédula de cem reais e pagou. — Pode ficar com o troco.

            — Obrigado, Paulista — agradeceu Pedro com um sorriso nos lábios, virou-se para Orlando e perguntou — Sabe quem se deu bem na história?

            — Não tenho a menor idéia Pedro — respondeu Orlando.

             — As mulheres garoto. No final, sempre delas a vitória — Concluiu Pedro.

            — Que história, Orlando — Perguntou Marta, abraçando Guilherme.

            — Histórias de mamelucos, paulistas. Vocês não entenderiam — Guilherme, você dirige, estou meio grogue.

            — Eu também — disse Marta.

 

                                                               0

 

            Ao chegarem no apartamento de Orlando. Tiane o esperava sentada na sala.

            — Oi amor. — Cumprimentou Tiane abraçando Orlando.

             — Estes são Guilherme e Marta.

            — Muito prazer. Cristiane. — Boas novas pra vocês. Malaquias me ligou atras de Orlando, avisando que ele conseguiu as reservas para o reveillon do Resort Costa de Sauípe, não fica em Salvador mas já marquei com o táxi. Ele vem às dezesete horas. Posso confirmar.

            — Claro! Vou arrumar as malas — Apressou-se Marta.

            — Vou tomar um banho e me arrumar. — Disse Guilherme — Orlando, obrigado por um dia verdadeiramente baiano.

            — Não por isso — Tiane, esquenta alguma coisa no microondas para nós ?

            — Claro, amor.

            Guilherme entra na suíte junto com Marta e  trancam-se. Mesmo com o  televisor ligado, ouvi-se os gemidos vindo do quarto. Na hora marcada, Marta e Guilherme saem do quarto aos beijos, já arrumados para partirem. O taxi já os esperava no térreo. Orlando ajudou a levar as malas até o carro de praça. Marta beijou-lhe o rosto, Orlando apertou-lhe as mãos.

            — Baiano, quando terminar suas férias, me ligue.

            — Claro chefe. Aproveite e dê uma chegada em Imbassaí, é pertinho de Saípe, e é lindo. Quem sabe vocês encontrem o Francês...

            — É difícil não aceitar suas sugestões. Tchau baiano.

            Orlando subiu para o apartamento com toda aquela história na cabeça. Ao entrar Tiane perguntou.

            — Quer saber por onde andei, não é?

            — Não. O que eu tinha de saber, aprendi hoje com Pedro Barriga.

            — O que você aprendeu com um pobre dono de boteco?

            — Que vocês, as mulheres, no final, é que são as grandes ganhadoras. Agora por favor. Vamos jantar descansar.

 

 

 

 

 

Fim

 

 

 

 

 

 

           

  

 

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